ENTREVISTAS







Vadiação poética - Programa 18
por Rádio Manobras
01 Dezembro 2013





Por fora da lei
por José Peixoto
06 Março 2013



No Porto, em Maio de 1968, nascia António Pedro Ribeiro. Sociólogo, jornalista, poeta e saltimbanco da palavra em bares, festivais como Paredes de Coura ou auditórios como o Campo Alegre. Em Vilar do Pinheiro onde vive e dá descanso aos dias, retira da gaveta para publicação os poemas e os textos escritos em todos os lugares líquidos. Um ano depois do "Café Paraíso" publicou em Dezembro de 2012, pela e-ditora, o livro de poemas "Fora da Lei". Pode saber mais: www.apedroribeiro.blogspot.com

A Voz da Póvoa  Do "Café Paraíso" ao "Fora da Lei" há um poeta mais provocador?

A. Pedro Ribeiro  O "Café Paraíso" é em grande parte dedicado à escrita nos cafés e às personagens que lá aparecem. Este livro também passa por aí mas é mais politizado. Fala do capitalismo, da máquina dos mercados, dos media, dos governos ao seu serviço e da forma como condicionam as pessoas. Por outro lado, fala no homem que sobe ao palco e vai para os bares dizer poesia.

AVP  Quem é aqui o fora da lei. É o poeta ou o poema?

APR  É difícil dizer. Também é o poema mas penso que é essencialmente o poeta porque acaba por ser um livro autobiográfico. É o tal poeta que acha que viemos ao mundo de graça, que não temos que pagar nada por estar aqui, que critica a tal máquina que nos impõe governos que nos matam à fome ou de tédio. Esse poeta é o fora da lei.

AVP  O livro é acompanhado por um CD onde diz alguns poemas...

APR  É uma dúzia de poemas do livro que foram gravados em lugares tão emblemáticos como o recinto do Festival de Paredes de Coura, a serra do Gerês ou o prédio onde vivi em Braga. Aliás, nesta cidade gravei ainda num hipermercado, na Praça do Município e no café "A Brasileira". Há também o tal poema no quintal de minha casa, em Vilar do Pinheiro, que fala dos animais e das plantas.

AVP  A poesia muda consoante os lugares de escrita?

APR  Isso acontece. Neste livro surgem poemas escritos no quintal da minha casa. Poemas que falam de cães, de gatos, de pássaros. Ou seja, o cenário influencia-me. Escrever nos cafés ou nas confeitarias da aldeia, onde o futebol e a coscuvilhice dominam, não é o mesmo que escrever nos cafés da cidade onde há uma maior variedade de personagens e de conversas.

AVP  O poeta é ainda um amante da escrita no papel?

APR  Escrevo sempre no papel primeiro. É uma relação física que tenho com a caneta, com o papel, com a mesa. Digamos que é uma relação à mesa do homem só, quase mágica. Não perco muito tempo a analisar o que escrevo. Tenho a convicção que há textos que saem à primeira. Mexer pode representar uma segunda versão. Tenho poemas com versões diferentes publicadas em diferentes livros.

AVP  O dinheiro e o seu endeusamento continua a ser objecto de reflexão?

APR  Tenho estado a pensar nisso e concluo que, de facto, o dinheiro, sobretudo as notas, são uma convenção. É um pedaço de papel que tu trocas com um número inscrito. Tu podias trocar folhas de papel higiénico carimbadas ou não e teria o mesmo valor. As moedas sempre têm um peso, podes apalpá-las. Nós somos comandados por um deus absurdo, o dinheiro.

AVP  Acredita que o livro tal como o conhecemos está para durar?

APR  Tenho esperança que sim e por muitos anos. Acho que este gesto de pegar num livro, tocar nas folhas, de sentir o cheiro é insubstituível. Penso que vão existir sempre livrarias e bibliotecas. Dizem-me que não, mas eu acredito que sim, o livro precisa-se e vai viver. Penso que a pequena editora e os alfarrabistas vão ter um papel fundamental nesse sentido. O futuro do livro pertence-lhes.





António Pedro Ribeiro em entrevista
“Os cafés são um espelho do que nos rodeia”
por Sónia Pessoa
13 Maio 2012
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Não quis encarcerar o poeta em meia dúzia de perguntas, preferi antes dar-lhe os temas e deixá-lo soltar as palavras, as mesmas que preenchem os dias de António Pedro Ribeiro, o poeta do Piolho. Foi neste café emblemático do Porto que o poeta falou sobre a vida, a crise, a revolta, a esperança e, claro, os cafés. Tem um novo livro, ”Café Paraíso”, que homenageia os cafés e as mulheres que fazem parte da sua vida.

Maio de 1968.

Foi o ano em que nasci. Mas foi uma data que me marcou muito, principalmente quando passaram 20 anos sobre o Maio de 68, eu estava na Faculdade de Economia, já lia bastante, e senti que foi um ponto de viragem. Foi uma revolução que não se fez por motivos económicos, foi um grito de liberdade e, por isso, é uma época que me atrai bastante.

O poeta e o homem.

Isso é difícil de responder. A partir de certa altura, acho que já não se distinguem. Se me fizesse essa pergunta há 10 ou 15 anos, quando era jornalista, eu distinguiria o homem do poeta, mas neste momento tudo o que é homem é o poeta.

Poesia ou prosa?

Foi muita poesia, mas neste momento é mais prosa, mas apenas porque neste momento me é mais fácil. Escrever um poema obriga-me a um certo ritmo, a uma certa cadência, e neste momento tenho alguma dificuldade em fazê-lo. Se bem que haja coisas que escrevo em prosa que podia passá-las para poesia, mas não sinto essa necessidade.

Cafés.

Cafés são o que bebo para conseguir escrever. Se não beber cafés a cabeça não funciona. Depois há os cafés enquanto espaço, há alguns que não consigo passar sem eles. Tenho de ir ao café escrever, ler, às vezes conversar com os amigos. Mas é sobretudo o acto de estar à mesa a escrever, já não consigo escrever em casa.

Porto ou Braga?

Eu nasci no Porto, mas tenho que dizer que Braga me atrai mais, se calhar porque foi a cidade que me acolheu numa altura em que eu estava a precisar, numa altura em que entrei aqui no Porto para a Faculdade de Economia e onde não me consegui integrar. Braga foi a cidade onde comecei a sair à noite, a ir aos concertos… Não queria aqui dizer que Braga é mais importante que o Porto, mas houve de facto um período da vida em que me marcou mais.

O Porto.

Falar do Porto é falar obrigatoriamente do presidente da câmara que, para mim, é um castrador – e veja-se os mais recentes acontecimentos na escola da Fontinha –, que não admite a diversidade, abomina tudo o que cheire a cultura e deita fora. É um mero contabilista sem sensibilidade social. Em relação à cidade em si, acho que houve uma transformação essencial que se traduz na existência da noite. Há 20 anos, o pouco que existia estava na Ribeira e agora transferiu-se para esta zona dos Clérigos. Está em grande força e isso parece-me positivo.

Mulher.

A mulher faz-me escrever. Já me acusaram de ser sexista, não propriamente neste livro, mas em livros anteriores, mas eu acho que a mulher é fundamental na criatividade. A empregada de mesa, que está ao balcão, a mulher que passa, a que entra no café, e que ocupa o café todo quando entra… Se não existisse a mulher teria poucos motivos para escrever.

O livro “Café Paraíso”.

Este livro vem no seguimento de outros, “O Poeta do Piolho” [uma homenagem aos 100 anos do café Piolho] e “À Mesa do Homem Só”, e que tem por base a minha vivência nos cafés. Os cafés são um espelho do que nos rodeia e inspiram-me a escrever sobre a vida, o homem, a mulher, a revolta.

O mundo e a crise.

Eu acho que podem acontecer 2 ou 3 coisas: ou vamos cair na barbárie, a exemplo do que se passou recentemente no Pingo Doce, ou vai haver uma ditadura, que aliás já existe, ou uma revolução, mas, nesse caso, não será um Maio de 68, tão pouco um 25 de Abril, será uma coisa bem mais violenta. Está a perder-se o sentido de civilização e a barbárie está aí às portas. Que tem origem no desespero real das pessoas, mas que também é consequência de uma máquina de propaganda que é veiculada pelos grandes média e que está ao serviço dos mercados. O medo está instalado nas pessoas, o medo do futuro, do amanhã.

Prémios literários.

Não escrevo para isso. Aliás, acho que o meu tipo de escrita não está virada para isso, não tenho essa ilusão. Mas não penso nisso, não penso em prémios, penso sempre no reconhecimento maior daquilo que faço. E escrevo muitas vezes com a ilusão de que com o que escrevo estou a mudar o mundo. Se conseguir influenciar algumas pessoas já valeu a pena.

Um dia perfeito na cidade do Porto.

Eu não sou muito exigente e, por isso, faço quase sempre as mesmas coisas. Gosto de vir aqui ao Piolho, às vezes vou ao Ceuta, passar o dia a escrever. Mas recomendaria uma ida a Serralves, à Ribeira e dar um passeio pela baixa do Porto.





Entrevista a António Pedro Ribeiro
Poemas com Cafeína
por A Voz da Póvoa
14 Março 2012



Nasceu no Porto em Maio de 1968, no mesmo ano e mês em que, em Paris, a juventude estudantil se manifestava contra o conservadorismo de uma Europa anquilosada. Actualmente António Pedro Ribeiro vive em Vilar de Pinheiro. É licenciado em Sociologia e assume-se como um revolucionário da palavra. Colaborador de diversas revistas, é autor de nove livros de poesia e um de prosa poética. Em Novembro de 2011, publicou “Café Paraíso” nas Edições Bairro dos Livros.

A Voz da Póvoa – No percurso do poeta há sempre uma mesa de café?

António Pedro Ribeiro – Este livro vem na sequência de outros como: “à mesa do homem só”, “Sallon” e “um poeta no piolho”. Tenho escrito essencialmente nos cafés. E tem sido essa vivência dos cafés que tem marcado a minha escrita nos últimos anos. Neste livro há uma recolha de poemas premeditada. Alguns estavam completamente esquecidos no computador, outros andavam desaparecidos em papéis.

A.V.P. – Como é que se consegue concentrar num café?

A.P.R. – Consigo perfeitamente escrever com o ruído do Piolho, da Brasileira de Braga, do Guarda Sol da Póvoa, do Pátio ou dos cafés da minha aldeia. O ruído às vezes até ajuda. As conversas, o empregado de mesa, o gerente, o homem que berra, o bêbado, o louco, os teóricos e os revolucionários de café. São tudo personagens que surgem. Não é necessariamente o silêncio que me faz escrever.

A.P.R. – Onde considera que o livro Café Paraíso se separa dos anteriores?

A.P.R. – O culto do álcool e das noitadas existe menos. É mais o café da tarde e menos o bar da noite. Continua a existir a mulher, mas já não é uma figura de culto. É a mulher que passa, que enche o café, a mulher bonita, a empregada de mesa a quem nós às vezes oferecemos poemas. A mulher que te faz escrever.

A.V.P:  A sua poesia exige um leitor com o ouvido no mundo?

A.P.R. – Na televisão há uma máquina de propaganda que está ao serviço dos mercados, dos governos, das comissões europeias, dos bancos centrais europeus e FMI. Às vezes acho que se trata de uma manipulação completa, mas tenho que prestar atenção para poder reflectir, filtrar a notícia e escrever o que penso. A pessoa nem sempre consegue dominar essa máquina que lhe é impingida.

A.V.P. – Há um outro poeta mais atento às coisas do sentimento?

A.P.R. – Há o poeta da alma, mesmo que digam que somos corpo. Apesar das teorias da psicanálise, acho que existe uma alma. E é a alma que nos distingue dos animais e de outros homens que já deixaram de ser homens. Com isso vem o amor, a liberdade, a curiosidade. A curiosidade é fundamental para descobrir. Enquanto tiver curiosidade continuarei a fazer coisas.

A.V.P: - A “Poesia de Choque” é tal como o nome diz ou há lugar para o amor?

A.P.R. – Eu e o Luís Beirão tentámos fugir à poesia mais lírica. Convidamos uma certa poesia de intervenção ou Beatnick. Não tem que ser necessariamente de subversão política. Há também lugar para a harmonia sem choque. Podemos dizer poemas de amor mas não é propriamente do Eugénio de Andrade. No Clube Literário chegámos a ter a sala completamente cheia. Agora acontece no café Olimpo.

A.V.P. – Nasceu em Maio de 68. Acredita que essa revolução pode repetir-se?

A.P.R. – Hoje as razões voltaram a não ser só materiais. Há também uma voz que grita a liberdade. Em parte isso acontece na Grécia onde, para além de razões materiais, há uma revolução pela liberdade. Uma revolta contra todo um sistema. Contra a tal máquina. As imagens repetem-se: os carros incendiados e a polícia. Acho que mais tarde ou mais cedo vai acontecer uma revolução como a de Maio de 68.





3 perguntas a... António Pedro Ribeiro
por Novos Livros
Novembro 2011



1- O que representa, no contexto da sua obra, o livro “Café Paraíso”?
R- "Café Paraíso" surge no seguimento de outros livros que publiquei como "À Mesa do Homem Só", "Saloon", "Um Poeta no Piolho", que têm como pano de fundo a vivência dos cafés e também dos bares. É uma homenagem às figuras do café: o gerente, os empregados de mesa, a mulher que passa, que se passeia ou que está ao balcão, a que às vezes ofereces poemas e que raramente é tua, o bêbado, os teóricos de café, os revolucionários de café, as tertúlias com poetas, escritores e outros. É também o retrato da cuscovilhice das mulheres, dos homens que passam a semana a falar de futebol sem outro assunto, do louco que berra, dos programas da tarde imbecis que passam na TV. É também o homem à mesa, o poeta, que escreve, lê e observa, que se revolta com o mundo dos mercados e da finança.

2- Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R- A Isabel Rocha da Cultureprint falou-me há meses na possibilidade de publicar em livro poemas inéditos meus sobre cafés. Fez-se uma selecção. Alguns foram acrescentados à última hora.

3- Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Neste momento tenho um livro de poesia pronto: "Fora-da-Lei". Estou a reunir um conjunto de contos auto-biográficos sobre os "filmes" da minha vida. Tenho também escrito prosas filosóficas, sociológicas e também algo proféticas, na linha do livro "Nietzsche, Jim Morrison, Henry Miller, os Mercados e Outras Conversas", que conto reunir talvez sob o título "Merda para Deus". Tenho escrito quase todos os dias e publico crónicas nos jornais "A Voz da Póvoa" da Póvoa de Varzim e "Fraternizar".





Livros com RUM - Programa 236
por António Ferreira e Sérgio Xavier
06 Outubro 2011





Entrevista a A. Pedro Ribeiro
O Verso dos Mercados
por A Voz da Póvoa
18 Maio 2011



António Pedro Ribeiro nasceu no Porto, em Maio de 1968, e vive em Vilar de Pinheiro, Vila do Conde. É licenciado em Sociologia, autor de oito livros de poesia, e agora tem o seu primeiro livro em prosa: “Nietzsche, Jim Morrison, Henry Miller, os mercados e outras conversas”. A 26 de Maio, no Teatro Campo Alegre do Porto, Pedro Ribeiro vai exibir o seu espectáculo poético, intitulado “se me pagares uma cerveja estás a financiar a revolução”. É candidato a deputado pelo PCTP/MRPP, pelo círculo eleitoral do Porto.

A Voz da Póvoa – Nietzsche, Jim Morrison e Henry Miller porquê?

A. Pedro Ribeiro – Podia acrescentar Jesus que é muitas vezes citado no livro. Tem a ver com esta sociedade, onde somos completamente controlados pelo FMI, pelo Banco Central Europeu e pela Comissão Europeia. Somos uma espécie de marionetas nas mãos dos bancos. O livro não faz apenas a critica, procura ser positivo com os autores que vou citando, porque fala da vida pela vida, que não precisa da mercantilidade.

A.V.P. – Este é mais um livro onde há uma realidade que incomoda?

A.P.R. – Enquadra-se no tempo actual. Não é de poesia e não tem o tom satírico, da “Declaração de Amor ao Primeiro - Ministro”. É uma prosa poética com textos por vezes proféticos, mas que são de reflexão filosófica e sociológica, sobre a sociedade actual.

A.V.P. – Esta vertente da escrita está sempre a ser repisada nos palcos?

A.P.R. – Há um acompanhamento mais intenso nos últimos anos, com a “poesia de choque” no Clube Literário do Porto, no Pinguim ou no Púcaros. Embora distinga o acto da escrita, do acto de estar no palco ou a dizer poemas num bar. Quando escrevo sou aquele que observa.

A.V.P. – A sua escrita nasce da celebração dos lugares da boémia?

A.P.R. – Uma parte vem do pensamento, que também é influenciado pelo que faço na rua ou no bar. Tenho essa escola da noite, dos bares, da celebração. Se bem que, às vezes, a noite pode ser um tédio com o céu e o inferno juntos. Estar no bar até de manhã tem essa vivência, mulheres, bêbados que falam contigo. Tudo isto pode ser criticável, mas as pessoas que vivem casa trabalho casa, não vivem.

A.V.P. – O essencial deste livro é transmitir é uma ideia de vida?

A.P.R. – É uma longa história inspirada no grito do Jim Morrison, “cremos o mundo e exigimo-lo agora”. Quer contribuir para a construção do homem criador, aquele que dança, que canta, que se passeia na corda bamba do devir, que volta a ser a criança sábia, onde tu és uma espécie de mestre. No entanto voltas a uma certa inocência, à pureza da infância. Porque a vida é exuberância, prazer e descoberta.

A.V.P. – É o poeta ou o homem que aparece na listas do MRPP?

A.P.R. – Embora não concorde com todas as posições, o partido tem um discurso anti-capitalista e defende a revolução social. A solução passa claramente pela rua, como se tem visto no Egipto, na Tunísia ou na Síria. O MRPP está nessa linha de pensamento.





Entrevista a A. Pedro Ribeiro
Poesia de Choque
por A Voz da Póvoa
21 Janeiro 2010



A. Pedro Ribeiro nasceu no Porto, em 1968 e vive em Vilar do Pinheiro, Vila do Conde. É Licenciado em Sociologia. Foi fundador da revista literária Aguasfurtadas e colaborador de revistas e fanzines como a “Portuguesia”, “Cráse”, “Voz de Deus”, revista “Bíblia”, e “Conexão Maringá”, do Brasil. O último dos oito livros de poesia publicados tem o título, “Um Poeta no Piolho” e foi lançado em Dezembro de 2009. Pedro Ribeiro também diz poesia e faz performances poéticas e poético-musicais.

A Voz da Póvoa – Qual a razão de comemorar os 100 anos do Piolho com um livro?

A. Pedro Ribeiro – A ideia partiu do escritor Raul Simões Pinto, que me convidou a reunir os poemas escritos naquele café. Alguns poemas perderam-se, outros aparecem nos vários livros que fui publicando. Tem também poemas inéditos escritos no Piolho a partir de Junho último.

A.V.P. – Cafés como o Piolho são referências que começam a rarear nas cidades?

A.P.R. – O Piolho tem uma história de encontro de opositores ao regime, tanto da área política como artística. A tertúlia ainda se mantém viva. Já vivi naquele lugar grandes discussões literárias e políticas. O Piolho no Porto, a Brasileira em Braga, o antigo Diana Bar ou o Guarda Sol na Póvoa, são espaços que tem uma certa especificidade. Não é um lugar onde vais simplesmente beber uma cerveja ou tomar um café, tem uma história, uma vivência que vem de longe. Infelizmente alguns vão desaparecendo.

A.V.P. – A que se deve o facto de ultimamente publicar com mais regularidade?

A.P.R. – Tem a ver com o ritmo da escrita. Escrevo praticamente todos os dias e vou publicando nos meus blogs. Há sempre cinco ou dez pessoas que lêem. A partir daí faço uma selecção. Mas há sempre textos que ficam para trás e só mais tarde é que são recuperados e publicados em livro.

A.V.P. – O ritmo do espectáculo tem acompanhado o ritmo da escrita?

A.P.R. – As duas coisas estão ligadas, mas são distintas. A escrita é fundamentalmente um acto solitário, mesmo que estejas a escrever num lugar cheio de gente. Quando estou acompanhado não escrevo. Não troco um amigo por um texto ou um poema. Já o acto de estar em palco é dar alguma coisa. Não dependes só de ti, mas também das reacções do público. Boas ou más, lido com ambas.

A.V.P. – Os palcos de Paredes de Coura e do Teatro Campo Alegre, definem o poeta?

A.P.R. – Espero que sim, até porque fui dizer poemas meus e as reacções do público foram muito positivas. Talvez devido ao tipo de textos que seleccionei, com uma temática ligada à vida boémia, textos que falam do sexo, da mulher fatal, das gajas boas. São textos que resultam bem em certos sítios, para um certo público. Mas há lugares onde digo Mário Cesariny, Jim Morrison, Allen Guinsberg ou Nietzsche.

A.V.P. – Cita e recita muito Nietzsche é porque assim falava Zaratustra?

A.P.R. – Estou a ler pela quarta vez esse livro. O Nietzsche fascina-me quando fala da superação do homem, que não é este homem pequeno das mercearias, das contas, dos orçamentos, do homem económico. Como diz o padre Mário de Oliveira, o homem é afecto e espírito, ou deveria ser sobretudo isso. Mas esse homem é destruído por esta sociedade capitalista. Mas há também o homem artista, que canta que dança, que está ai.

A.V.P. – Sente que o artista deve ser cada vez mais interventivo?

A.P.R. – O artista não tem que ser como os outros e levar aquela vida regrada e certinha. Deve ir mais longe, quebrar rotinas, ser um desalinhado. As pessoas podem não estar de acordo com tudo o que tu dizes ou escreves, mas aquilo mexe com elas. Esse é o objectivo.





Entrevista a António Pedro Ribeiro
Voz Sem Dono
por A Voz da Póvoa
07 Maio 2009



António Pedro Ribeiro nasceu no Porto, em Maio 1968, e vive em Vilar do Pinheiro, Vila do Conde. É Licenciado em Sociologia. Tem sete livros de poesia editados, destaque para: à mesa do homem só, Silêncio da Gaveta, 2001; Declaração de Amor ao Primeiro Ministro, Objecto Cardíaco, 2006; Sallon, Edições Mortas, 2007; Um poeta a Mijar, Corpos Editora, 2007. A 22 de Maio em Braga, na Centésima Página, apresenta o seu mais recente livro “Queimai o Dinheiro”.

A Voz da Póvoa – O título é o fósforo que incendeia os poemas do livro?

António Pedro Ribeiro – “Queimai o Dinheiro”, está claramente ligado ao livro. O dinheiro e tudo o que gira à volta da economia de mercado é cada vez mais como um deus. Há um discurso económico das estatísticas, das percentagens, das bolsas, dos mercados, que domina tudo. Há uma linguagem quase hermética que poucos dominam. O livro funciona como uma denúncia.

A.V.P. – A forte carga política que o livro tem pretende mexer consciências?

A.P.R. – Tem uma parte claramente politizada, rebelde, anti-capitalista, onde vou buscar muita coisa aos surrealistas, aos situacionistas e a Nietzsche. Há muitos textos poéticos que vão contra esta sociedade de rebanho, de merceeiros que temos. Isto está tudo nas mãos de banqueiros e especuladores bolsistas. Temos ladrões nos bancos e nas bolsas e ninguém é punido.

A.V.P. – Para um poeta de intervenção a denuncia deve ser uma luta permanente?

A.P.R. – Hoje faz mais sentido que nunca. Não nos mesmos moldes do antes do 25 de Abril, porque há novos dados. O capitalismo não é o mesmo, mas a luta é. Neste livro há também poemas e textos que são mais ligados às deambulações nocturnas, ao jogo sensual e sexual, muito claramente à mulher, com uma parte mais mística ligada ao sentido da procura do amor.

A.V.P. – Transportas esta ideia do livro para o palco dos recitais?

A.P.R. – Tenho feito intervenções com a poesia de choque e tento transpor isso para o palco. Às vezes de uma maneira mais teatral, utilizando elementos cénicos, queimando notas falsas. Já tenho tido manifestações de pessoas que vem falar comigo no fim. Há sempre quem não goste e até se sinta incomodado.

A.V.P. – Queimar o dinheiro é metafórico, ou é possível recuar ao tempo da troca?

A.P.R. – Tem um sentido metafórico, mas também levanta a questão da troca directa. O dinheiro é muito mais que uma moeda ou um papel. O dinheiro é um símbolo, um deus que parece estar acima de tudo, que comanda todas as relações. Poucas vezes conseguimos escapar à sua influência. Talvez em algumas relações de amor, de amizade ou fraternidade. Tornou-se uma espécie de monstro que está em todo lado. Domina todas as outras ciências. Subjuga todas as artes.

A.V.P. – A sua poesia é muito referenciada, os mestres estão sempre presentes...

A.P.R. – Tem a ver com o que leio. Ultimamente voltei ao Nietzsche, li pela primeira vez filósofos gregos como Platão e indirectamente Sócrates. Tenho a vantagem de ter muito tempo para ler. Isso naturalmente reflecte-se no que escrevo.

A.V.P. – Tal como Mário Viegas dizia, a poesia é mais forte que uma arma?

A.P.R. – Não sei se tem mais força que todas as armas, mas é poderosa. É a arma que os poetas têm e que as pessoas que contactam com a poesia podem ter. É uma arma que acaba por ter muito mais influência do que outras vias de luta.





Entrevista a António Pedro Ribeiro
A Surrealizar Por Aí
por A Voz da Póvoa
16 Janeiro 2008



António Pedro Ribeiro nasceu no Porto em Maio de 68. Vive em Vilar do Pinheiro. É Licenciado em Sociologia. Com Rui Soares, publicou o livro de poesia, “Gritos. Murmúrios” (Grémio Lusíada, 1988), seguiu-se “à mesa do homem só”, (Silêncio da Gaveta, 2001); sexo noitadas e rock n’roll, (Edição de Autor, 2004); Declaração de Amor ao Primeiro Ministro, (Objecto Cardíaco, 2006); Sallon, (Edições Mortas, 2007) e recentemente, Um poeta a Mijar, (Corpos Editora, 2007).


Voz da Póvoa – Um Poeta a Mijar, continua a fazer declarações de amor ao primeiro ministro?

António Pedro Ribeiro – O surrealismo e o dadá continuam presentes e até a linha Beatnick. O poeta a mijar é no fundo um poeta que observa, está no mundo mas está deslocado do mundo de uma forma muito critica. Por um lado está a mijar e está-se a cagar, mas por outro está preocupado com um mundo que é feito de economicismos, materialismos e de castrações. O poeta coloca-se um pouco à margem, na posição de um certo voyeur, mas é aí que observa.

V.P. – Este livro continua a assumir o lado crítico na linha dos anteriores?

A.P.R. – O livro, Declaração de Amor ao Primeiro Ministro, tinha mais poder e era mais directo, mas penso que este é mais abrangente, porque vai buscar coisas que não estavam nos outros livros. Não sendo tão directamente politizado, acaba por ser mais crítico porque vai buscar a fundo o que está mal na sociedade e até o amor continua presente, talvez menos por uma mulher como no Sallon, já o lado místico, como lúcifer, deus, o céu, continua muito presente.

V.P. – Nos livros aparecem sempre poemas que hibernavam nas gavetas?

A.P.R. – A escrita tem destas coisas, por vezes passo por certos períodos de espera e de silêncio e depois há outros em que escrevo bastante. Há também poemas que vão esperando por um livro que os acolha, mas nem sempre é assim, por vezes ficam esquecidos ou perdidos num qualquer sítio e depois por obra do acaso vão sendo recuperados à luz do dia que são os livros por onde passam a morar.

V.P. – O poeta volta a ser candidato, desta vez à Câmara do Porto...

A.P.R. – É uma forma de bombardear o sistema, é puro terrorismo poético. Não há qualquer inocência nesta candidatura, nem a intenção é provocar por provocar, é o tal lado surrealista que exige uma postura radical, que se tem mantido na minha escrita e que é coerente com a minha pratica. Depois a velha ganga marxista já não se aplica à sociedade de hoje, é preciso procurar outros caminhos, como o sentido de humor por exemplo.

V.P. – Pensa que este é um momento em que se exige uma viragem na sociedade?

A.P.R. – Já fui comunista, marxista-leninista e só marxista. Agora já não tenho a propor um modelo de sociedade, tenho é a certeza que este modelo não serve e portanto devo tentar ridiculariza-lo ao máximo. Neste momento estou afastado dos partidos e não acredito neles nem nos seus projectos. Não tenho uma solução para o problema, mas sei que isto não serve e o que posso fazer é escrever sobre isto e dizer que nada disto vai ao encontro da felicidade do homem.

V.P. – O poeta era capaz de escrever um livro em oposição a tudo o que escreveu?

A.P.R. – Se fizesse uma selecção de poemas de amor que nunca publiquei, alguns mesmo antigos, era capaz de ser diferente, não completamente porque o amor acaba por estar sempre presente em todos os meus livros. Este fala muito do palco, ou tudo o que se vive enquanto lá está, o declamador de poesia, o cantor ou o performer. Um palco onde Jim Morrison ou Ian Curtis eram feiticeiros que conseguiam transportar o publico para outra dimensão, é esta a minha homenagem.





António Pedro Ribeiro
O que tem a ver José Socrates com os Doors, Nietzsche ou H. Miller?
por Pedro Soares
Outubro 2006



Por vezes, ao observarmos uma fotografia antiga de Oscar Wilde, de Ernest Hemingway ou um qualquer outro mestre da literatura, somos invadidos por uma vaga de nostalgia; a da figura romântica do escritor, despreocupado pelos pormenores secundários de uma vida passada nas boémias tertúlias de café, por entre o tabaco, o ópio e o álcool, em viagem recreativa por entre as paisagens paradisíacas de países estrangeiros ou em comunhão telúrica com a terra em qualquer esconderijo pessoal no meio da Natureza.

Quem nunca teve um secreto ensejo de ser um Fernando Pessoa a escrever na esplanada d’A Brasileira, um Sebastião da Gama a colocar por palavras a beleza da Serra da Arrábida ou um Almeida Garrett a inspirar-se nas paisagens verdejantes do Douro, que atire a primeira pedra.

Claro que estou a exagerar, esta é apenas uma visão romântica do escritor. No entanto, é uma imagem que já não colamos aos autores contemporâneos. A culpa é da sociedade moderna e de conceitos como o capitalismo ou a globalização. Actualmente, existem demasiadas coisas com que nos preocuparmos, demasiada informação para assimilarmos e bastante pouco tempo livre para desfrutarmos.

O poeta portuense António Pedro Ribeiro parece não querer acreditar nisso e poderá vir a ser o último poeta romântico português. Isto apesar de “Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro e Outras Pérolas – Manifestos do Partido Surrealista Situacionista Libertário”, o livro que acaba de editar pela Objecto Cardíaco, ser uma obra política, irónica, satírica e algo surrealista, directa e quase panfletária.

“Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro…” é ainda uma obra influenciada pelos situacionistas, que não se furta a utilizar a técnica da colagem, ao utitilizar machetes ou excertos de notícias da comunicação social escrita misturadas com palavras suas.

A Rua de Baixo decidiu dar a conhecer um pouco mais sobre o poeta (e músico) António Pedro Ribeiro, que fez furor na recente edição do festival Paredes de Coura com as suas declamações. Foi sobre isto, sobre o seu inusitado amor pelo primeiro-ministro, sobre os The Doors e sobre muitas outras coisas que conversámos. Para conferir nas linhas seguintes.

Confessou-se apaixonado pelo primeiro-ministro. Pelo actual em particular?

A “Declaração de Amor…” não se aplica só a um primeiro-ministro, aplica-se a todos os poderes que estão podres, como dizem os surrealistas, os situacionistas, os anarquistas e outros esquerdistas. É claro que José Sócrates merece uma menção especial pela sua postura mecânica, robótica, arrogante e intolerante. Julga-se um super-homem, um homem-providência, cheio de rigor e competência como Salazar, mas é uma grande treta. Aliás, tal como a maior parte dos dirigentes dos partidos portugueses. Além disso, faz o jogo do imperialismo e do capitalismo mundial. Nada faz para combater a pobreza ou o desemprego. Os únicos primeiros-ministros portugueses que estimo são Afonso Costa, Vasco Gonçalves e Maria de Lourdes Pintassilgo.

Depois de algumas edições de autor, “Declaração De Amor Ao Primeiro-Ministro…” é o seu primeiro livro publicado por uma editora. Como surgiu o encontro com a Objecto Cardíaco?

A “Declaração de Amor” não é o primeiro livro publicado por uma editora. Em 2001 publiquei “À Mesa do Homem Só. Estórias” através da Silêncio da Gaveta, uma pequena editora sedeada em Vila do Conde e na Póvoa de Varzim, dirigida pelo João Rios e pelo José Peixoto. Ainda assim, em Maio desse ano, surgiu uma boa crítica na revista do “Diário de Notícias” [DNA] que já falava numa certa “descida aos infernos do álcool”, só que como nem eu nem a editora éramos conhecidos, a coisa caiu no esquecimento. Eu e o Valter Hugo Mãe, da Objecto Cardíaco, já nos conhecíamos das andanças dos bares e da poesia. Contudo, no ano passado o Valter ouviu-me recitar no café Pátio, em Vila do Conde, o “Poema do Défice” e o texto “Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro”. Perguntou-me se eu tinha mais coisas do género e eu disse que tinha quatro ou cinco coisas antigas e inéditas. Depois, de Julho a Setembro, escrevi o resto, até porque encontrei na casa da minha avó em Braga uma antologia do surrealismo francês e a “Arte de Viver para a Geração Nova” do situacionista Vaneigem. Foi mais uma volta à cabeça. O livro, no fundo, é um manifesto surrealista situacionista libertário em linguagem poética.

É o A. Pedro Ribeiro um autor exclusivamente político, de intervenção, ou o seu próximo livro poderá muito bem ser sobre outra coisa qualquer?

Não me considero um autor exclusivamente político. Até porque, na senda de Breton, a política não existe separada da vida. O amor, o sexo, a liberdade e a revolução são todas uma coisa só que as máquinas castradoras do sistema sempre tentaram dividir. Mas, ao fim e ao cabo, felizmente nunca o conseguiram no que respeita a alguns homens e mulheres. Nietzsche fala no espírito livre e em Dionisos e eu acredito.

Eu tenho um livro para sair há um ano chamado “Saloon”, através das Edições Mortas. O problema é que o editor – António Oliveira, mentor da livraria “Pulga” no Porto – anda teso e eu também. Esse livro é diferente. Tem a ver com a atmosfera dos bares, com as mulheres que estão do lado de cá e de lá, com o sexo que espreita mas raramente vem, com o engate, com as mulheres que amamos e com as outras que passam, com a noite e com os copos até cair, com o pistoleiro que entra no saloon a gingar e que assusta toda a gente, ou então é ostracizado. O meu próximo livro talvez se chame “Um Poeta a Mijar” e terá talvez duas partes ou dois livros: uma das partes vai ser estilo Dada e humorística com textos já conhecidos mas nunca editados em livro, como “Borboletas”, “Futebol Dada” ou “Mamas2″. A segunda parte ou livro poderá conter as tais iluminações, delírios ou alucinações – a fronteira é ténue –, estilo “Eu vi a morte nos olhos de Deus”, os tais textos que não sabemos de onde vêm. Contudo, não deixarei nunca de tomar posições políticas, talvez até funde uma coisa nova, mas não um partido, não suporto mais ver a coisa dividida entre dirigentes e dirigidos.

Não teme que não o levem a sério?

Eu já fiz muitos disparates. Mas se não tivesse feito alguns deles teria apodrecido de tédio ou de depressão. Mesmo quando estou a brincar ou com os copos, penso que as pessoas inteligentes entendem que já escolhi o meu lado da barricada. Há quem me ame e quem me odeie. Isso é natural quando dizemos ou cantamos determinados textos ou tomamos determinadas posições. É claro que custa não reagir às provocações quando insultam aqueles que amamos.

Sente-se um “poeta maldito”, como o eram Rimbaud, Baudelaire ou Sade?

Não me coloco ao nível de Rimbaud, Baudelaire ou Sade. No entanto, tenho a certeza que sou deles, que venho dessa linha de malditos onde incluo também Blake, Lautreamont, Jim Morrison, Nietzsche, Henry Miller, Bob Dylan, Allen Gingsberg, Péret e tantos outros. Não nasci para os empregos das 9 às 5 – dou-me mal neles, a rotina mata-me. Léo Ferré disse que o artista aprende a profissão no inferno. Eu vou lá muitas vezes e gosto, porque o céu, muitas vezes, é uma seca, com todos aos beijinhos, aos abracinhos, aos boatos, aos mexericos, às panelinhas e eu detesto. Serei um poeta maldito, mas isso não significa que não ame a Humanidade, as mulheres bonitas, o sol, as crianças. Esta merda que nos querem impingir é que eu não aceito. De qualquer modo, não sou, não quero ser, o versejador da corte.

São eles as suas referências ou existem outros?

Antes de falar em mais artistas queria elogiar todas as mulheres bonitas que amei e continuo a amar (mesmo quando nos chateiam a cabeça…). O meu amigo António Manuel Ribeiro, dos UHF, dizia que “a mulher é fundamental para o homem na sua criatividade”. Além do mais, tudo quanto nos rodeia, tudo quanto nos vem à cabeça, são referências. Posso também falar de Salvador Dali, Mário de Sá-Carneiro, Pessoa, Herberto, Cesariny, António José Forte, Led Zeppelin, Deep Purple, Breton, Artaud, Monty Phyton, Lucky Luke, Obélix, Eurípedes, Dioniso, Afrodite, Sócrates (o filósofo), Agostinho da Silva, Jack London, Henry Miller, Jack Kerouac, Platão, Marx, Bakunine, Rosa Luxemburgo, Hugo Chavez, Trotsky, Proudhon, Pasolini, Fellini, João César Monteiro, Marlon Brando, Bárbara Guimarães, Merche Romero, Minka, Sharon Stone, Kim Basinger, Pamela Anderson, Zapata, Pancho Villa, Marcos e Che Guevara. E tantos outros e outras…

O A. Pedro Ribeiro foi um dos grandes destaques das sessões de leituras realizadas este ano no festival Paredes de Coura, promovidas pela Objecto Cardíaco. Sentiu-se como uma estrela de música?

Essa coisa da estrela do rock n’ roll… da fama… é muito perigosa. Já me aconteceu antes por motivos políticos enquanto candidato do PSR, do Bloco ou à presidência da República. Os gajos põem-nos nos píncaros e depois, no fim, dão-nos porrada. Todos nos vêm cumprimentar, somos os maiores, mas passado um mês ou dois tudo se esquece no altar do tédio e da rotina. É uma ilusão. É claro que eu sempre tive a noção de que esta é uma sociedade de imagens. Mesmo quando cantava numa banda chamada “Ébrios” em Braga em 1990 e fui acusado de mandar fechar o hipermercado Feira Nova com um bando de guerrilheiros imaginários. Delírios, né? Às vezes temos de utilizar os “media” a nosso favor, sem os desprezar como fazem alguns dos meus camaradas anarquistas. Não nos podemos fechar num “ghetto” elitista, onde somos os detentores da verdade. O Rui Reininho fala em “subir ao povo”. Agora só me falta que o povo suba até mim… a coisa tem de ter uma sequência, senão torna-se uma viagem sem regresso. De qualquer modo, se vier a ser uma estrela (se não for preso ou internado antes…) acho que me vou retirar para o deserto ou para a montanha, para um sítio onde ninguém me conheça, ou então… talvez vá ter com os meus camaradas revolucionários da América Latina.

Ainda Paredes de Coura: um dos poemas que declamou foi «When The Music’s Over», de Jim Morisson. Porquê essa escolha?

Aos 16/17 anos, um amigo do Liceu Sá de Miranda, em Braga, – o Jorge Pereira – emprestou-me o disco “Strange Days” dos Doors, banda que eu só conhecia muito vagamente. À primeira audição estranhei. À segunda, sobretudo quando ouvi a canção «When The Music’s Over» parecia que o mundo recomeçava ali. Eu já percebia as letras críticas do Roger Waters, dos Pink Floyd, mas ali foi uma porta que se abriu, uma luz que veio ter comigo e nunca mais foi embora. “We want the world and we want it…Now!”, gritou o Jim Morrison e todos os sinos, todas as missas, todas as convenções, todas as ilusões, todas as falsas convicções, todas as aparências, todas as conveniências, todas as normas, todas as infâncias acabaram ali, naquele momento. E depois veio o “The End” e o “Apocalipse Now” do Coppola com o Marlon Brando no papel de xamã, como o Jim era. E, a partir daí, tive de ir sempre atrás da loucura… até hoje.

A música é também um dos seus prazeres? Houve algum grupo que tivesse gostado particularmente de ver em Paredes de Coura?

“Music is your only friend”, canta outra vez o Jim. A música sempre foi fundamental na minha escrita e na minha alma. Lembro-me do “boom” do rock português em 80/81 com os «Cavalos de Corrida» dos UHF, o «Chico Fininho» do Rui Veloso, a «Chiclete» dos Táxi, os Jafumega. Mais tarde, os Xutos, os GNR, os Mão Morta. E depois, claro, os Pink Floyd, os Doors, os Velvet Underground, a Nico e o Lou Reed, os Bauhaus, os Joy Division, os Led Zeppelin, os Rolling Stones, a Patti Smith, os Who, o Freddy Mercury, o John Lennon e o Bob Dylan. Ultimamente, ando mais virado para o punk (Clash, Sex Pistols), porque a linguagem directa do punk é a que melhor se aplica a estes dias de tédio e imbecilidade militante, e também para os blues – B.B. King, Muddy Waters, John Lee Hooker –, mas continuo a ouvir o José Mário Branco, o Zeca Afonso, o Fausto e o Pedro Barroso.

Em Paredes de Coura adorei os Panico, os Yeah, Yeah, Yeah, os Cramps e os Bauhaus – embora tivesse gostado mais deles no Coliseu em 99, estavam mais “iluminados”. A minha maneira de escrever sempre foi muito musical, muito rítmica. As letras que escrevo para a minha banda – Mana Calórica & Las Tequillas, que inclui o Rui Costa (guitarra), o Henrique Monteiro (guitarra), a Betânia Loureiro (baixo) e o Hélder Sottomayor (bateria) –, reflectem isso mesmo e são cada vez mais directas.

E quanto ao futuro, pode-nos adiantar algo sobre o seu próximo livro, ou sobre os seus planos para o futuro próximo?

De futuro espero estar vivo e inteiro, com ou sem as mulheres que amo, fazer concertos e performances com a Mana por todo o país e pelo estrangeiro e viver disso. Conto também escrever mais livros/fanzines “underground” como o “Sexo, Noitadas e Rock n’ Roll” (2004) e participar activamente na revolução mundial.